Dilma lança sua candidatura. Mas... ela não é uma mulher divorciada?
Do viva.mulher.blog.uol.com.br
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A campanha de Dilma Roussef (PT) à presidência da República começou oficialmente ontem com a aclamação de sua candidatura no Congresso do PT. “Oficialmente” porque, claro, seu bloco já estava na rua há muito tempo, desde que Lula aventou a possibilidade de apoiá-la.
Fico me perguntando como será a cobertura da imprensa sobre sua candidatura. Afinal, trata-se de uma mulher cujo cabo eleitoral é um presidente com altíssimos índices de aprovação. Ou seja: não dá para negar que ela tem chance real de ganhar. Quais armas serão usadas? Que abordagem será privilegiada?
Alguns indícios já dão o tom: por enquanto, é constante o reforço de seu comportamento “explosivo” e a superexposição de suas transformações físicas – da “melhora geral” até a decisão de deixar de usar peruca, tudo foi assunto para a mídia.
Mas, e na reta final, será que vai pesar mais sua atuação na guerrilha durante o enfrentamento ao regime militar ou, por exemplo, o fato de que se separou do marido? De dois maridos, aliás. Isso será uma questão para a imprensa e para a sociedade em geral? Ou já chegamos a um amadurecimento tal dessa democracia que não nos pautamos pela vida pessoal dos candidatos, apenas por sua atuação política? Isso sem falar em seu apelido de “trator”, que revela uma mulher não tão “delicada” quanto estamos “acostumados”. Conseguiremos discutir se ela teve que endurecer para sobreviver na política – cujos espaços ainda são muito masculinizados – ou vamos assumir que esse é o “jeitão Dilma”?
Bem, um exemplo não muito distante pode nos ajudar: a pesquisadora Astrid Nilsson Sgarbieri realizou, há algum tempo, um estudo comparativo da cobertura da imprensa – mais especificamente de duas revistas semanais de circulação nacional, Época e Veja – sobre duas mulheres reconhecidas por sua militância política: Heloísa Helena (PSOL) e Marta Suplicy (PT). Ela constatou que, embora diferentes, as notícias sobre ambas insistiam em destacar um ponto específico: o guarda-roupa. Enquanto Marta era criticada por seus modelitos de “ostentação”, que não se encaixavam em suas visitas à periferia como candidata à Prefeitura de São Paulo, em 2004, a então senadora Heloísa Helena era ironizada pelo figurino “casei com Jesus” que lhe concedia um ar “sério” e até “militarista”. A religiosidade, aliás, pode ser a marca da cobertura em torno de uma outra candidata já confirmada na disputa de 2010: Marina Silva (PV), apontada como mais “discreta” ou “comedida”.
O relato acima me leva a, mais uma vez, confirmar a hipótese óbvia de que roupas, comportamento e opção religiosa das mulheres que estão na esfera pública são pontos sensíveis para a sociedade. Ainda segundo Astrid Sgarbieri, “o funcionamento da ideologia na linguagem tem como principal objetivo tornar naturalizado para os participantes o que, na verdade, é de interesse de um grupo social, ou seja, a ideologia leva para o terreno do senso comum representações sobre o mundo que manifestam o interesse de um determinado grupo ou classe social, como se fosse neutro ou de interesse de todos.”
Sendo assim, acho que podemos esperar pelos inúmeros exemplos de preconceitos que vão “escapulir” nas páginas da imprensa e atingir em cheio Dilma, Marina e demais candidatas. Dilma no foco, claro, quanto mais alto o teto, mais o telhado se torna de vidro. Independentemente de sua plataforma, programa ou sigla. Escrito por Maíra Kubík Mano às 09h34
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